REFLEXO


Hoje recebi a inusitada visita de um albatroz.

Ele pousou, nada soberbo, no beiral da janela do andar superior.

Esguio e altivo observava, discretamente, aos meus movimentos dentro do quarto.

Por minha vez, fiz de conta que ele não estava ali.

Com meu olhar periférico eu me encantava com sua postura.

Percebi como era grande, vistoso, visivelmente corajoso e ágil. 

Destacava-se ali quieto a me fitar de fora pra dentro, seus olhos... os meus...

Não imagino de onde veio nem como chegou até aqui.

Moro nas montanhas, bem longe do mar.

...

Me arrisco a caminhar em direção à janela, após quase uma hora de contemplação discreta.

Passos curtos e a distância entre nós parecia aumentar. 

Tomada a decisão final em encarar de frente tamanha ave destemida, me deparo apenas com meu reflexo na vidraça.

Nenhuma penugem deixada por qualquer descaso dava sinal de que ele esteve, de fato, ali.

...

Me desfiz da rara surpresa, me despi de alguns medos, tomei fôlego, bati asas e voltei a voar.


Adriana Paris

Comentários

Postagens mais visitadas