ESTRONDOSA


Não sei subir em árvores.

Não tenho apetrechos de colheita. 

Não sei escalar seu estrondoso tronco e ser alpinista  de frutíferas. 

As frutas caem e apodrecem. 

Se desmancham na terra úmida e fertilizam um bocado ao redor.

Os pássaros se alimentam de várias maduras.

As lagartas escolhem outras e constroem labirintos naquelas meio azedas.

Eu olho.

Aprecio a força da natureza.

Estrondosa que rasgou o solo. 

Fincou suas raízes metros abaixo.

Espichou ao céu seu poder de crescer e de expandir seus braços. 

Como dezenas de brincos pendurados, a ameixeira parece uma mulher enfeitada, linda que acabou de parir seus filhos.

Não alcanço mais nem os galhos mais baixos, mas chego ao seu cume com meu olhar.

E, no fim da tarde, o sol é envolvido por todos os ramos e braços e dedos e brincos do pé de ameixa.

E me sacio só de ver o enlace entre terra-ar-tronco-céu-vento-sol.

Estrondosa me basta sua sombra.


Adriana Paris

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