José

Ontem me despedi do José.

Homem de brio, meia idade, evangélico, coletor, casado, três filhos, morador da periferia, comentaram.

Gostava de peixe, batata assada, pudim de coco. Estudou até a quinta série em escola pública, ouvi dizer.

José não irá mais ao culto, não verá mais os filhos, nem beijará sua mulher. Nem imagino o nome dela. Que sozinha agora arcará com tudo. Seja forte!

José não vai mais comer peixe.

Foi tudo tão rápido. Esgotou suas forças. Fraquejou e não resistiu. Mais um coroado pelo invisível devastador.

Hoje me despedi do José. Não sei quem ele era, onde morava, como era sua aparência ou o tom de sua voz. Será que sorria muito?

Amanhã será outro José.
E Antonio.
E Maria, Fátima, Marcelo, Clodilte, Ronaldo, Beatriz...
Obituário atualizado à toque de caixa.
Até quando?

Há esperança.
Aos parentes e amig@s do José, coragem e paciência.
Vidas novas às partidas.
Com piqueniques nos parques na próxima primavera.
Festas de casamento e batizados vão acontecer.
Regeneração planetária.
Até um dia José.

(À todos os 'Josés' e 'Marias', vitimad@s na pandemia 2020)

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