LÁGRIMAS RALO ABAIXO đŸŽ”


Parei de chorar no chuveiro nos banhos que tomava
Porque eu (e o ralo) nĂŁo dava conta de tanta ĂĄgua
Que rolava ralo abaixo.
E foi o ralo que me pediu sossego
Ele estava farto de receber aquela inundação
Dia sim, dia nĂŁo dizendo que o sal da lĂĄgrima
Era prejudicial ao brilho do seu metal.
Se ainda fosse sal grosso ou do Himalaia
Ele iria gostar - me disse com voz mais alta.
Assim nĂŁo teria, de fato, mais nenhuma barata
Pelo encanamento da casa toda.

O ralo me explicou que chorar no banheiro
Sem ninguém ver não faria efeito nenhum
Na vida que eu vinha levando.
Que eu desperdiçaria sal e líquido corporal,
Que minhas glĂąndulas lacrimais estavam fartas
De produzir tanto choro e ele ir ralo abaixo.
Fui compreendendo o desabafo daquele ralo
Que me via de baixo pra cima e nĂŁo entendia
Porque eu nĂŁo ria ou nĂŁo cantava no chuveiro.

Por uma semana nĂŁo entrei naquele banheiro.
Tomei banho de caneca dentro do tanque de tilĂĄpias
Desativado uns dez anos atrås para manutenção
Que estava lĂĄ, vazio, sem peixes, sem ĂĄgua...
NĂŁo chorei durante uma semana.
Percebi que era no banheiro que aquilo tinha graça.
NĂŁo fazia sentido eu chorar em outro lugar da casa
Muito menos no tanque das antigas tilĂĄpias 
Que decorava o jardim que havia ao redor.

Após esta necessåria introspecção
Voltei ao box do banheiro 
E chamei o ralo pra uma conversa séria.
Ele de boca aberta jĂĄ me esperava como sempre
Mas se surpreendeu quando desceu por ele
Apenas ĂĄgua morna e perfumada do sabonete novo.
Ele sorriu sinceramente e sentiu-se Ăștil
Como nenhum outro ralo da minha velha casa.
Agora são só as antigas cançÔes do Roberto
Que seguem ralo abaixo na cantoria que se instalou desde entĂŁo.



ComentĂĄrios

Postar um comentĂĄrio

Postagens mais visitadas