UMA FOLHA DE PAPEL


o vento bailava forte

e entrou voando 

sequer pediu licença 

e de todos os papéis 

que descansavam 

na escrivaninha

só sobrou uma folha

um pedaço de papel

ingênuo dócil sozinho

perdido calado tímido 

vazio em branco medroso 

sem pergunta nem resposta


preso naquela mesa de madeira 

querendo voar pro céu 

com aquele vento 

que invadiu a casa toda

mas quando me viu chegando

desistiu de pegar viagem 

me fitou olhou pro céu 

e pensou que eu fosse precisar dele

para escrever sobre meu dia

sobre meus acertos 

ou planos futuros

como fazia quando era criança

e escrevia no caderno:

- 'quando eu crescer'...


não é tão tarde e posso rabiscar 

umas estrelas nesta folha sozinha

paciente que me espera nua

e cheia de curiosidade 

querendo saber quais palavras vão germinar

na sua terra virgem

e viajar dentro do quarto

sem pegar carona no vento 

que continua a ventar, a ventar...

a ventar lá fora com todas as outras folhas

em redemoinho sem salvação 


ADRIANA PARIS

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