IMPERMANENTE



Lá fora chove.

Avisto no seu passaporte

O visto da despedida.

O dessonhar da gente

Teve início.

Desde quando não estamos mais?

A fachada foi interrompida

E agora todxs vão saber

Que não mais existimos juntxs.

Foi tempo demais.

Amor desfeito.

Não há tempo para mais.

No vasto jogo de estares efêmeros 

As fartas horas que não se acumularão.

E, assim, não contarão nossa história.

Em devaneios imaginei um futuro.

Impermanente camote em um embeiçamento fugaz.

Puro trote ao coração nada eloqüente. 

Serenatas que não ocorreram,

Bombons que derreteram antes de serem entregues.

Rosas que murcharam ainda na plantação antes de serem colhidas para efeitarem seu quarto.

Liquidez extrema de um amor.

Puro amor somente meu.

Não há poesia do toque descontinuado.

Não há rima no não beijo.

Meus dedos e mãos não terão mais lugares em teu corpo.

Você, longe dos meus olhos, já troca olhares na nova viagem.

Até quando?

O telefone toca e não me atendes.

Não avisto um horizonte no horizonte e diante de tamanho esgotamento acordo nesta manhã. 

Mas permaneço mergulhado acordado no sonho de passar horas no derriço com você. 

Ainda sinto o perfume do seu sorriso e o estardalhaço de suas lágrimas quando fazíamos juras de amor.

Nada sobrou do antigo flerte e agora no finito estar entre lençóis, estou só.

O travesseiro guarda sua maquiagem de noites passadas.

Me agarro a memórias e serão somente quimeras.

Quem dera a chuva caísse ainda mais forte e no temporal de meu choro convulsionasse em ondas teu retorno.

Adormeço depois de horas.

...

Impermanente estar.

Ondas sonoras e raios laser te encontrarão em algum lugar.

Distante, efêmero em novos risos e juras de amor.

Fico com as fotografias salvas no Instagram e nos álbuns do Facebook.

Amanhã, uma nova manhã.

Novos amores líquidos hão de partir meu coração dos anos oitenta em dois mil e vinte e um.

...

Adriana Paris

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