IMUNIDADES

Há pouco mais de um mês
Carrego em mim alguns miligramas de antídoto
Contra um vírus invisível e tão letal
Quanto um verme acéfalo no púlpito federal.

Embora não chegue perto de cem por cento a proteção contra ele que veio de fora,
Me considero imune ao dissimulado em variantes verbais que nasceu bem perto e aqui dentro.

Em tempo algum me pareceu simpático.
Sempre aparente na dissimulação em elóquio chulo.
Minha imunidade individual na urna não me livrou da doença nacional que segue.

Padeço por outros quinhentos mil.
Um deles era bem próximo de nós.
E ficaram apenas memórias e algumas dezenas de fotos ao lado da saudade.
E com olhos marejados dia a dia penso que poderia(m) não ter(em) ido tantos, se a vacina tivesse vindo antes.

Há três meses parece que todos os dias são aquela quinta-feira dezoito de março.
Sem remédio, sem terço, sem respirador, sem tubos que dessem conta. E ele se foi. 
E depois dele mais outros cem mil.

Meio milhão e a contramão da vida caminha em jetski ou em NC 750X. 
Não se importa. 
Não abre porta. 
Fecha janelas e esperanças enquanto o canto da boca sacaneia um riso.

O bestiário da idade média parece voltar bem colorido e vivo com os monstros reais do apocalipse (e não são fakes!).
Simpatizantes dão força à família seminal num tempo de humor terminal.

Não há imunizante suficiente.
Não há trabalho eficiente.
Não há comida pra toda a gente.
Não há cura onipresente.

Mas aqui estou imunizada contra:
O ódio-ignorância-preconceito-discriminação.

Como um dragão de komodo (nascido em outro texto) à passos curtos me locomovo com cautela.
Pé no chão e sem muita disposição, é fato, mas ainda sem desistência pois dezenove de junho mostrou resistência.

... 

Aqui não é Estocolmo neste domingo de fim de outono.






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