Segunda

Hoje, depois do sereno, apareceu o sol.
Ele invadiu meu quarto sem pedir licença.
E eu, laconicamente, não criei empecilhos. 
Fiquei observando minha própria sombra no chão do quarto.
De um contorno confuso por conta das várias peças de roupa.
Não me via ali.
Eu, sombra, não me reconhecia.
...
Fiquei um bom tempo a observar-me sem ver nitidamente que era eu ali no chão.
À medida que o sol ia tomando calmamente novas posições, minha sombra tomava novas formas.
...
Penso que nossa vida, com o passar dos anos, seja assim também.
Vai tomando outras formas, por vezes se mostra confusa, irreconhecível, sem rosto.
Noutras vezes é possível perceber como somos se tirarmos as camadas com as quais nos vestimos.
Não que sejam carapaças para esconder quem somos verdadeiramente, mas sim para nos protegermos do que vem de fora. Casulo. 
...
Segunda começa assim com um novo brilho a cair sobre a Terra e a aquecer nossos corpos, aquecer o chão e dar força à germinação.
Vem cheia de energia natural para reacender a esperança.
Esperança. Palavra que aparece reiteradamente em novos dias após outros dias sem alento.
...
A sombra se dilui por completo quando o sol não mais invade meu quarto e, aqui, só permanece sua luz e claridade.
Começa finalmente o dia.

Comentários

  1. "Segunda começa assim com um novo brilho a cair sobre a Terra e a aquecer nossos corpos, aquecer o chão e dar força à germinação." que suspiro de esperança... Que assim seja Adriana! Lindo poema!

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