No Varal
Recolhi a roupa do varal
Não passei
Não dobrei mas guardei
Em gavetas minhas
Sem chaves mas que só eu sei.
Coloquei as plantas no varal
Pra tomarem banho de chuva
E se encherem de alento
Água do céu, cheiro de mato
De terra molhada no ar do quintal
As flores sorriram
As folhas tomaram o tom de um verde mais escuro
Fortes e exalando perfume fluído das veias dos deuses
Em ricas nuances de cores mergulhadas em petrichor
Geosmin abundante e meu coração é um pêndulo.
Coloquei minha alma no varal
E balancei sem as mãos
Vendo o quão corajosa ela é
Sob o sol e debaixo de chuva
Ela bebe de néctares pra me fazer viver
Na melhor paz que pode haver num corpo e mente em guerra com o mundo no qual se apresenta.
Pendurei sentimentos no varal
Pra quararem em harmonia com o sol
E com a lua
Passaram dias e noites por lá
Sem pregadores, resistindo à dores e temores
Se equilibrando em cordas estiradas ao ar livre
Pra tentar me livrar de censores.
Debrucei meus livros no varal
Pra se encantarem com os pássaros que sobrevoam meu espaço naturalmente urbano
E se deslumbrarem com o banho de sol despretensioso de meu cão.
Um olhar ao céu e outro olhar ao chão
O campo de visão dos meus livros dentro de suas capas protetoras superam o espectro de sua leitora.
Deixei minhas plantas no varal
Pendurei meu corpo no beiral
Larguei minha alma no quintal
Desterrei sentimentos de Natal
Me lembrei que sou mortal
Escrevo e sinto o pulsar nem tão racional
Mas estou longe do ser normal
SSoouu só Poesia Seminal.
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