Pão de Ló

A pandemia me encarcerou.

Temendo pela não vida, obedeço as leis que o invisível impõe. 

O quarto, a cozinha e o sótão são meus lugares faz mais de um ano.

O sofá, a cadeira, o chão e a cama são meus assentos.

O circunflexo de mês a mês em casa é o acento mais pronunciado.

E assim, em lugares repetidos, entre forno e fogão, testo semanalmente algumas habilidades na culinária e, finalmente, descubro a delícia de fazer um pão de ló, o famoso bolo da vovó, no meu forno elétrico. 

Poucos ingredientes misturados para dar uma adocicada no café da manhã e tentar minimizar as amarguras destes mais de quatrocentos dias sem os Saraus, sem os amigos presentes, sem abraçar meus pais.

E este bolo, que eu nunca havia feito antes da pandemia, tem um nome curioso que me fez pesquisar sua origem.

Interessante foi perceber que até sobre esta receita tem uma competição, várias informações e afirmações  sobre onde e quem criou tal preparo.

Não cheguei a nenhuma conclusão se o pão de ló nasceu em Portugal, Espanha ou Itália.

Nem se o Ló foi um conde, um padre, um lugar ou sobrenome de família.

Mas fiz este bolo com tanta vontade que ele cresceu como deveria, deixou perfumada quase a casa toda e o café da térmica acabou.


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