CORPO TORPE

E se o negro mistério misturasse todos os sentimentos do mundo resultando em uma coisa que sinto agora e não posso (não sei) explicar o que é.
É como se as várzeas inundadas de pranto, afogassem minhas próprias lágrimas num tanque sem bordas e tudo transbordasse numa colossal sofreguidão.
Mas o intenso clamor reaparece por vezes, deixando o peito em brasas e queimando todos os pelos do corpo, ficando aquele odor queimado no ar.

CORPO TORPE.

E é como se num poderoso raio rápido que cruza o imenso céu (cinza), eu fosse a todos os lugares ao mesmo tempo e sem sair deste lugar.
É como se todo o deslumbramento dócil, se derretesse como gelo, frio, pálido, indigente e, por vezes, eu até me esquecesse que sou gente e que tem gente (como você) que gosta de mim .
Mas o corpo meio que inerte, estático não vê esse raio passar, nem o gelo derreter e de olhos abertos entra em transe e não lança mão do sórdido corpo indolente.

CORPO TORPE.

Investigas a meu respeito perguntando às estrelas: 
- Onde está a mulher dos meus sonhos? 
- Onde está o homem das minhas noites insones?
- Ah! Minha musa inspiradora autora de tantos poemas!
Poeta onde o vasto mundo é pequeno demais e ainda acha-se perdido tentando encontrar outro poeta negro cósmico, inspirador, homem de tamanha energia concentrada em seu coração.
Capaz de fazer um sorriso rasgar o rosto de uma poetiza que fala baixinho:
- Que saudades do meu amor! 
- Temo perde-lo. 
- Eu o amo demais! 
E o negro poeta responde:
- O que? Não ouço. Grite!!!

CORPO TORPE. 

E assim continuo na saudade, uma saudade tão dolorida de alguém que não se conhece e, por isso, não se foi. 
Será que me entende poeta do cosmos? Anjo ilusório das noites, inspirador que remexe minha essência?
Esta é a pior das saudades! Quando não se tem mais algo ou alguém, o tempo cicatriza, permanecem as lembranças.
Mas a presença invisível te leva a loucura, pois é ausência. 
Uma terrível ausente presença.
Eu o amo! Amo além da matéria. É o amor não visto, não percebido, não tateado.
- Deuses vocês me ouvem? 
Amigo negro anjo poeta cósmico! Sorria em algum canto da terra, quero ouvir teu sussurro de prazer para com outro alguém, contentando outro corpo.

Não torpe.

- O que já disse? 
- Pergunte-me? 
Nem eu mesmo sei.
Meu pulso está preso à mesa, enterrando palavras num pedaço rasgado de papel com a doce ilusão que este teu carinhoso olhar, enxergará estas palavras amargas, apertadas em um corpo.

CORPO TORPE.


(escrito em 15. 05. 92) by ADRIANA PARIS.

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