A MORTE

Os pés se apoiam no fundo do poço.
Estou toda arranhada,
A cabeça dói.
Caí de uma altura que nem sei,
As sequelas serão permanentes,
O coração dói.
O dedão do pé esquerdo não tem mais ponta.
Os cotovelos sangram.
O estômago dói.
Há uma umidade turva no pouco ar que tem por aqui.
Um bolor verde escuro está debaixo das unhas de minhas mãos.
A cabeça ainda dói.
Um cheiro amadeirado invade minhas narinas.
Depois um cheiro de peixe podre se apodera de minha pele.
O coração ainda dói.
A carne do meu corpo está pálida e enrugada.
Meus joelhos não se dobram com facilidade para meu andar ser à frente.
O estômago ainda dói.
Meus passos são lentos e presos neste cubículo de vida.
Meus olhares não alcançam mais nada que interesse ser visto.
Minha voz não chega a nenhum ouvido e duvido que alguém um dia me ouviu falar sobre amor.
Minhas mãos tateiam mas não pegam nada de valor – a riqueza está nos atos e não nas coisas.
Meus pensamentos chegam até as paredes e ricocheteiam até minha cabeça que agora não dói mais.
O alimento que tanto precisei pra ser forte e saudável nunca foi palatável e pereci descontente comigo que me observava pelo espelho. Sou pele e osso.
Meu estômago não dói mais.
Pelo viés de uma frase não pronunciada, permeava a vontade de recomeçar de um jeito diferente, prudente, latente, serenamente feliz, mas...

Meu coração não dói mais.

Comentários

  1. (poetanegro) Bem reflexivo,bom de ler e pensar com facilidade,as letras brincam tornando-se palavras ! gostei muito ,parabéns

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