perdida

se eu perder o tempo de ser

perdida estarei em mim

se eu perder a lógica 

perdida estarei entre cômodos do meu corpo

portas fechadas no peito que dói 

e sem saber se foi ato falho ou se falhei sem agir

perdida estarei se você partir 

e assim ficarei

: inerte, 

olhando ao infinito toque 

(olhos fechados)

perambulando na madrugada do não ser

sem perder o estilo em desfile solitário

pelos corredores da grande casa

que não mais habito

risco palavras no chão sem arestas

negligencio-me 

esqueço quem sou

tão grande é o gosto por não ter mais gosto

e no desgosto da parceria vencida (perdida)

desperdiçada na varanda de um velho sobrado

não há mais sol da tarde

: a escuridão é presente

...

perdida pelas vielas do meu coração

tão pouco de mim permanece e esvaindo o olhar

antes cativo e nada presente (realmente)

desce o desfiladeiro de salto alto

falando alto e de corpo ereto, sem discrição,

entoam pelos ares 

algumas músicas do Seixas 

e as madeixas avermelhadas,

envergonhadas, dispersas

carregam as memórias das pequenas boas histórias

de alguns verões e invernos passados

onde passamos por sol e nuvens descobertas

...

se perder é necessário? 

: sim

há de acontecer a busca incansável pelo novo ser

assim, que haja tempo de sobra (sem bordas) para as despedidas

o tempo é falho e

minhas falhas são falas não retocadas

: pelo abraço de um terço

mas...

nem o Pai Nosso tocou o coração do anjo

e tudo se foi, 

ralo abaixo

restando nada de uma nata

e como superar o amor verdadeiro perdido?

ele foi único

será eterno

enquanto eu, perdida, 

não conseguindo me encontrar

permaneço à espera do ser

que não fui

arremessada no tempo

sem mais tempo de perder-me

By Adriana Paris 

a partir do poema Perder-Se de Jairzinho Lopes Pereira