PAULISTANA

Ana, paulistana, cidade grande, multidão (solidão)
Acorda sem bom dia sem padaria sem vizinho
A luz entra correndo sem permissão pela janela aberta
Abertas entranhas da cidade sufocante (contagiante)

O brilho do filme, sem palhaços, sem cartas nem cadarços
Sente-se ouvindo alguém que diz: nada é permitido
Paulistana, Ana, invisível na multidão
Sem mãos dadas, ruas nubladas, inquietas no silêncio inexistente

Buzinas-risadas-palmas-choro-apito-cumprimentos-saltos-assaltos
Sem pai nem mãe, cama e abrigo, trabalho ou copo de leite
Cartas rasgadas, endereços perdidos, lamentos ao vento
Portas, cortinas, janelas, olhos, sorrisos, gavetas abertas

A música toca e a última loja de discos vinil está fechada
Horário de almoço, lá dentro só o moço envelhecido ouvindo Roberto
Ana, paulistana, sem sombra, sob o abrigo da fachada do prédio no centro
Desconcentrada, desacertada, aspirando o cheiro da carne assada

Morta de saudade da vida que não teve, se atreve, a escrever
No ar, pela fumaça que embaça a visão da gente ao redor
Foge dos automóveis que correm apressados e transitam na contramão
Sem canto, paulistana, pela janela dos olhos sente a garôa.

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