Memória de mim

(trecho de)  MEMÓRIA DE MIM. By Adriana Paris

[...] Não terei memória póstuma se no presente não construir uma história.
Sou chão, sou céu, sou ar, sou mar e não sou nada.
Pois nada de sublime há em minha existência e, ao mesmo tempo, (im)parcialmente, sou única enquanto 'eu'.
Desatino a acreditar que ninguém no mundo me vê. Embora todos me olhem.
Mas há que eu me veja enquanto pássaro para voar de mim até mim, num sobrevôo cauteloso, pois a vida é tênue.
Não posso me desmanchar em lágrimas ou em sorrisos.
Ou posso.
Posso o que eu quiser.
Sentir e advertir-me de quantos eus existirão durante minha existência e permanência.
Se eu quero ser, serei.
Não resistirei aos desejos nem aos gracejos das noites em claro me convidando para sentir a brisa.
Não decidirei nada antes das certezas que virão.
Mas tudo é incerto, mutável, itinerante, volátil. Esmolas não encherão meus bolsos.
Migalhas de pão não encherão meu estômago. Migalhas de palavras não encherão meu conhecimento sobre o mundo.
Qual mundo? Este? Ou aquele para o qual ainda não fui?
MundoS.
EuS.
VocêS.
Somatória de nós em nós.
Em uníssono, blefamos sobre a sorte.
Um riso alto.
Um grito baixo - inaudível.
Não!
Não me atormentes.
Dormentes.
Sementes jogadas longe da terra úmida e fértil não germinarão.
Talvez nasça um broto torto em meio a umas pedras e deste uma flor.
As flores persistem e resistem.
Sinal de vida superando intempéries e dificuldades (sobre)naturais.
Sou chão, sou ar, sou céu, sou mar.
Sou tudo e sou nada. [...]

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