E no salão azul há um poeta mergulhado em seu mar de palavras.
Parece um curandeiro pronunciando vocábulos estranhos e a conceber vida em seus cadernos.
Foge o poeta da era digital e é com um lápis de madeira rude que ele escreve.
Com seu cigarro apagado no canto esquerdo da boca, ele escreve nos cantos e no verso de folhas soltas quando o folha acaba.
Vejo uma lágrima na face do poeta.
Ele escreve mais uma estrofe...

Ouço um gargalhar a sair da boca do poeta.
Basta uma cadeira, uma mesa, um calhamaço em branco e um pedaço de grafite.
O poeta declina-se em versos.
Ritmados e sem rima.
Rimados e sem métrica.
Vívidos e sem pressa.
Apressados e adormecidos.
Não há regras, modelos, nem rótulos...
O poeta não percebe minha presença esguia atrás da cortina do grande salão azul.
Não basto para que ele se perca e esqueça sua escrita para me olhar.

Quando a ponta do lápis quebra, habilmente ele o aponta com um estilete velho, bastante usado.
Revela que há muito tempo o poeta produz muito além de meros rabiscos.
Aquela ponta quadrada e irregular do lápis continua a preencher todo espaço em branco e vazio das folhas que ele carrega.
O vazio vai sendo deixando de lado e, agora largo em letras reunidas, vai nascendo a poesia.
Mergulhado no salão azul emaranhado de ideias navegantes vão tomando forma.
Um sentimento novo a cada instante e novas palavras recheiam folhas e folhas que ele carrega.



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