REFÚGIO

há cercas no quintal
onde vasta grama é o pasto 
do campo da grande família
com vacas, frutas e plantio de trigo

há sempre flores na janela
o sol que brilhou na montanha, esconde-se
o chá fresco esfumaça
tempera o ar com um aroma adocicado

e se despedem, à mesa, pai e mãe
filhos e irmãos
é noite
: a lua chega

dormem todos e planejam
em sonho o telhado novo
para o melhor abrigo na nova estação 
que há de vir trazendo o frio acinzentado

mas o que chega antes são bombas
atravessando estradas, vindas do céu
grampeando os ares com rajadas luminosas

não há terra segura e as vidraças
se estilhaçam na casa que abriga
a família do moço que era feliz

a chave é o que sobra 
depois da terceira noite
: incontáveis explosões
e só correr não basta

não sobram móveis, não restam portas
não sobra gado nem quintal ou pasto
só a sombra de uma guerra iniciada
por aqueles que não descem dos tanques

a guerra atravessa mares
e ele, o moço que era feliz,
agora sem família e carregando apenas memórias
é mais um no barco que navega tenso
em caminhos de fuga que se apresentam (im)possíveis
em uma rota traçada às pressas

sem bagagem 
nem acompanhante
na miragem
de um mundo bom

o chão de outra terra 
recebe a vida que permanece
sobrevivente das infinitas surtidas 
munido de esperança buscando abrigo

perece a força, renova e retoma ânimo
com as lembranças que jamais se vão
rodando como filme em película 
todos os dias diante dos olhos
: fechados

e os braços da cidade 
engolem o homem
antes moço, que em refúgio, 
construiu história

- recomeçar

: não foi fácil
nem rápido ou certeiro
mas se faz casa
e recanto
: o berço

amigo lhe escrevo
no abraço do tempo
o mundo em um poema
: faz-se noite e o sol brilha


imagem da internet



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