Infância

tenho poucas memórias de minha infância 

talvez eu tenha crescido rápido demais

e não tenha percebido o quanto foi potente o instante daquela vida

perderam-se os brinquedos pela casa

escondeu-se o sol na varanda

quebrou-se o pote de sonhos dependurado na janela

as cortinas guardaram as peraltices comuns do dia-a-dia infantil

bolinhos de chuva choviam na calçada de casa de portão alto

as setas de ferro do portal apontando para o céu me traziam a segurança de um lar


sei que haviam luas cheias estocadas no porão 

e alguns sentimentos de criança estendidos no varal

sob vestidos lavados no tanque de pedra 

onde as pedras do jogo de amarelinha pareciam estrelas caídas do céu no chão de asfalto quente

.

.

.

não há hoje tanta esperança

como havia nas festas de aniversário 

as bonecas, minhas amigas confidentes, 

também cresceram

não ocupando mais nenhum lugar na casa que habito


e não vieram crianças quando deixei de ser criança 

os filhos que não quis ter cresceram em outros quintais

os abraços que não troquei contaram outras histórias 

e me trouxeram poucas lembranças de um tempo distante 


dizem que se envelhecemos 

outra infância há de se ter

volta-se a depender de quem nos guie e nos cuide

haverá lembranças ressuscitadas da minha meninice esquecida?


só o tempo dirá 






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