identidade

sempre houve um espaço vazio.
aqui dentro (lacunas).
sem saber qual falta persiste.

são tantas as ausências não identificadas.
sigo sem saber ao certo
de onde vim, como sou e para onde vou.

são pedaços, como quebra-cabeça,
que por vezes se encaixam
noutras vezes não se ajustam.

continuo por alamedas sem (e com cem) possibilidades
sem perspectiva de definição.

apenas existo formando a minha história que,
certamente, é carregada por tantas outras histórias
(ainda desencontradas)...

é um retorno para um lugar desconhecido.
uma procura constante pelo não sei.
tentando achar respostas para quem realmente sou
minha identidade não se completa.

passado e presente presenteiam-me
a cada dia com novas sensações e memórias do que não sei se vivi,
mas sinto.

sinto estar em lugares, conhecer gentes e seus mundos.
há vários mundos no mundo
e estar neles, com eles, levam-me e trazem-me de volta.
(de onde e para onde não sei).

meu lugar é em todos os espaços,
entre todas as línguas e culturas.
não tenho fronteiras em mim.

apenas as que me cercam por ser parte (invisível) deste todo ignorado.
sob a linha abissal que segrega,
transito entre os dois lados.

pertenço, subalternx sem rota de fuga (há esperança?!)
mundos já existiam antes do mundo ser positivado (capitalizado).

minha identidade é múltipla
não definida, arriscada, inominada.
estou e não sou para eles que se ergueram superiores (dizem-se).

não me calo por mais que queiram tapar minha boca e fechar meus olhos
por mais que tentem me condicionar 
e no sistema ser um número a mais (que tanto faz)

resisto
             insisto
                          invisível 
                                           escrevo
minha insatisfação permanente
persisto
                 (in)visível
                                    indelével 
                                                      acredito
existo

buscando identidade por onde passo
secularizando minhas queixas
recuperando pedaços de história
em uma História não escrita
que tentaram apagar 

sou parte da resistência
uma deslocada dentro de mim mesma
pelos becos da minha vida
procuro Carolinas e tantas Nzingas

finitude de um corpo 
cuja alma percorre os tempos 
e se junta, em eco, no grito surdo
abraço fantasmas, sorrio.

deixo as lembranças esfumaçadas
me levarem até o barco e às sementes
adormeço para sonhar com minha gente




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