20º dia

e o corpo encolhido
se mantém tenso
continua penso
suspenso (em armações)

centímetros se perderam
dores ramificadas 
feito espinhos apinhando
o osso, o couro, os órgãos
a bexiga enche e esvazia
com plasticidade única

o corpo revira e espera
conta os minutos (se desespera)
retoma a sanidade física
e, ainda encolhido, relembra peripécias
o corpo sonha
o corpo condensa esperanças
o corpo se alinha (l e n t a m e n t e...)

os olhos se fecham e
os braços seguram as pernas
as pernas abraçam os ombros
os pés cumprimentam o chão
as mãos massageiam o peito
as costas se inclina e remexe

os olhos se abrem e
os cabelos se enroscam nas hastes da torre
torre que aperta e aperta e aperta e aperta
mudei de nome
(me chamo Dolores e Maria das Dores)
a dor chegou perversa comigo

a música toca e não danço
o filme começa e não acompanho
o telefone toca e não atendo
palmas batem no portão e não vejo
o sol nasce, se põe e me mantenho à sombra
não há regresso, é preciso calma

os passos tardam 
lentos passam os dias
os dedos continuam velozes 
e digitam no teclado do aparelho móvel
escrevem um pedaço das tardes
e sonham com os novos amanhãs 

20º dia e estou Frida
ainda é verão, mas as noites 
já iniciam sua chegada mais cedo
o relógio continua seu trabalho
(o meu permanece estagnado)
amanhã será vinte e um 



Comentários

Postagens mais visitadas