o vento...
o vento que agita as cortinas
conversa com a sala solitária
as poltronas vazias dialogam com os quadros
como que aguardando um café fresco
e o tapete de ponta dobrada feito faixa
enrola sentimentos atravessados
sob as solas dos teus sapatos nus
o vento que bate na porta da frente
é a vida que dá bom dia
esperando a pessoa de cara arrumada
e com cheiro de contentamento
sair para descobrir avenidas
e as esquinas esguias da velha cidade
o vento que bate no rosto
é a prova da saudade existente
dos amores que teve (hoje todos ausentes)
e no bater quase calado de um coração
faz relembrar fotografias estampadas na mente
coloridas, descascadas pelo tempo
que viajam no lampejo das três cornetas de um trem
o vento que bate na porta dos fundos
é a morte que dá boa noite
e convida para o prolongado passeio
por ruas asfaltadas com luzes acesas
entre velhos postes adornados em dezenas de fios
onde o fio de vida se esvai gota a gota
não há saliva que o convença a ficar
o vento que agita as paredes da casa
é o mesmo que arrasta todas as folhas caídas
e retorce os galhos das árvores sinceras
fazendo voar os cabelos soltos da criança sozinha
que não cozinha, nem limpa janelas
só observa o farfalhar que corre assombrado
de dentro para fora da casa hodiernamente vazia
e as flores...
as flores perdidas nas páginas de um jardim
fitam os insetos que pousam roubando-lhe perfumes
e recontam os tantos dentes-de-leão que escapam
com o mesmo vento que bateu portas
que agitou a vida, trazendo também a despedida
entre tantas canções e abraços em clave de sol
: só o sol se esqueceu de aparecer
imagem da internet
Comentários
Postar um comentário