a pergunta
o dia virou noite
com nuvens carregadas
de angústia e medo
fazendo do céu um inverno
o pobre trabalhador
chegou tarde
e a casa vazia o aguardava
: pálida
pouco convidativa
simplória
sem família
: a casa jazia
o peito do homem cansado
de estômago faminto
tinha o cansaço como companhia
e os olhos mergulhados na noite
a vida era dura
o corpo era forte e fosco
não havendo contrato
entre ele e algum deus
cozinhou o arroz branco
refogou as lentilhas
temperou tudo com sal
e a pimenta ardia na alma
cinco minutos
e o apito da chaleira assoviou
tão alto que o vizinho pediu silêncio
não seria luxo abrir os olhos cansados
no meio da noite, quieto
comia do seu preparo molhando o pão
e o pensamento corria fitando suas mãos grossas
com a pergunta de quem ele seria
se não fosse a chuva a romper o vazio
e a escuridão daquele não dia
adiava a hora da descoberta do cidadão
subalternizado e ocupado demais
para uma resposta curta e rápida
adormeceu mais uma vez
: amanhã o trabalho lhe espera lânguido
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