M O R M A Ç O
tão longe da praia o mormaço transita
pelos corpos suados que atravessam a avenida
e dentro do ônibus, metrô e trem
as mãos escorregam pelas barras molhadas
sem limite entre eu e o outro desconhecido
entre mais corpos quentes que se encostam
lambendo o suor dos outros que disputam
no espaço apertado um pouco do ar incondicionado
quente aliado à brisa morna que sai das bocas
escandalizadas com o clima chegando aos quarenta graus
já nos degraus na estação da Sé
trafega a multidão, do horário das seis
cansada, transpirando poucos sonhos
derradeiros e salgados sonhos
que com o cair da noite derretem todos
os pequenos vestígios de lucidez
seres humanos embalados pelo tempo abafado
sem sinal de chuva, apenas a neblina baixa
dentro de estômagos famintos e aflitos
a calidez desesperada pede trégua aos céus
a cidade - pura visage
o planeta de sacanagem (?)
: sufoca o desumano homem
liberta força bruta e, enfim, reage.
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