O homem que estava morrendo.


A luz caída sobre o homem que estava morrendo, dava sinais de fraqueza.

Ele, sem ter sido poeta, partia lentamente.

Ela, a luz, sem ser etérea, apagava-se com o chegar da noite.

Regogizavam algumas abelhas sob o néctar das flores pendentes no caramanchão onde o corpo do homem que estava morrendo repousava.

O homem não pensava depressa.

Mesmo morrendo e não tendo mais muito tempo, ele pensava devagar sobre tantos eventos da vida.

A pressa em usufruir dos seus últimos momentos diante da brevidade, nesta encarnação, não existia para aquele homem.

Ele pensava, lentamente, em como foi feliz na pobreza de sua infância com pés descalços tendo apenas algumas pedras e latas vazias que lhe serviram de brinquedos.

Lembrava de sua fervorosa devoção à Nossa Senhora de Guadalupe nos tempos de juventude.

O homem que estava morrendo via a vida ir e vir, para mais alguns minutos de suaves recordações.

Sentia uma brisa úmida a passar pelo rosto enquanto caído, sob néctares e abelhas, e vislumbrava um pouco de tudo que não mais iria viver.

Recordar os tempos de outrora percebendo, paulatinamente, que sua 'boa' hora estava ali entre suspiros.

Não há explicação plausível que justifique ou fundamente o momento da partida, nem a  prorrogação do tempo se não há script a ser seguido ipsis litteris.

Finda a vida no momento em que a morte quer ocupar todo o espaço.

...

Já se sabia que em algum dia desta existência haveria esta troca.




 

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