Espelho de Fogo

é um corpo inquieto que queima por dentro

viajando estático pelo mar vermelho tão cheio de história

masmorra no peito que, sem jeito, queima

explodem mil bombas em seu cérebro cadente

descobrindo películas emboloradas de um filme antigo

sem filtro se olha no espelho

vê labaredas e nega um sorriso pra si

despedaçada cobre as marcas do tempo com as duas mãos

seus cabelos compridos pegam fogo

pele chamuscada chora e canta e ri e morre e engasga e retorna

tropeçando sem cálice nem lembra o sabor do tinto

tingida está sua alma 

rubra fosca tosca rubra fosca tosca

o espelho delata quem é esta mulher

registra na memória oculta a face de alguém que aguarda o reencontro consigo mesma

queima e túrgida a robustez já lhe falta

fina tez retesada soluça meio às chamas não apagadas de uma vida

com alguma sobra de tempo tece seu manto

embalada por mãos de anjos (em sonho) se despe da vontade onírica de ser anjo também

cospe em seus próprios pés

espelho de fogo guarda todo o segredo degredado no exílio de si mesma

em ócio no labirinto de seus pensamentos (cansados) descansa letárgica seu legado

e dorme meio ao fogo 

refletido na alma espelhada ao vento