A MÁQUINA

o barulho da água revirando e revirando
em uma casa de uma porta só,
chega a invadir o corpo todo
ecoando em vai e vem por um quarto de hora.
e há tantas peças ainda não descartadas
que, se limpas, serão usadas em dias diversos
por hora, entre espumas em ventre latente 

por isso, chacoalham e se apertam,
se cruzam e se abraçam
também se estapeiam na casa apertada uma vez por semana,
se encontram e conversam brevemente 
por onde andaram e registraram presença 
em várias cores
circulam e se avistam espremidas no tempo curto de encontro forçado 

o barulho cada vez é mais rápido
parecendo um giro infinito com sons desafinados
em uma melodia não composta sem ironia
e, após uma quase eternidade de minutos,
a casa de uma porta só, vai liberando as convidadas para um quintal de sol
onde ficarão mais um tempo se fitando e decidindo entre si,
as que voltarão em breve para a reunião forçada com cheiro de lavanda.

(Sensações e reflexões em uma manhã de sábado ao som da máquina de lavar roupas)

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