EXPURGO POÉTICO

 EXPURGO POÉTICO 


Passei o antisséptico no machucado.

O joelho está ralado. 

Ralo fino... Com algumas sequelas. 

Foram vários os tropeços. 

(Soluços desequilibram avessos).


Não consigo desinfetar pensamentos. 

Minha vivência neste mundo torpe vem me causando estragos.

Lembro: - Viver para morrer.

...

Os espaços se chocam.

O ar, por vezes rarefeito, toma o caminho do vácuo e está lá.

Aprisionado. 

E eu aqui, à sufocar-me com lembranças.


Tento correr da pressão.

Fugir da depressão.

Ambas me cercam e correntes pesadas arrastam-se atrás de mim.

Fivelas marcam minha carne nada depurada.

O mau hálito que (não) sai de minha boca, entra por minhas narinas. 

...

Quem sabe bebendo o antisséptico livro-me dos flagelos invisíveis que me consomem.

Beber algo mais forte que este uísque sem gelo.

Fumar algo mais forte que este cigarro sem filtro.

...

Penso em fazer as malas. 

Na verdade uma bagagem de mão. 

Modesta. Leve. Compacta.

Com um lápis e um apontador.

Um caderno.

Um lenço. 

Meus óculos.

E os sonhos que não se realizaram.

Tudo lá arrumado dentro da maleta.

...

   ...

      ...

Expurgo centenas de abelhas que estão em meu estômago.

Abrindo a boca com as duas mãos pra saírem mais rápido.

Mas são muitas.

Elas zumbindo desde o estômago, esôfago, garganta, boca... até se soltarem no mundo. 

Não param com este barulho criado pela velocidade do bater de suas asas.

Eu...

Não sou como estas abelhas.  

Difícil voar pra longe da compressão. 

Sou o que restou das ferroadas deste enxame.

Sou novamente luz (viva!).

Sorrio.

Sou expurgo poético para dilacerar realidades em versos num desabafo cotidiano das reminiscências de uma vida (sem hora para terminar).


By Adriana Paris

Comentários

Postagens mais visitadas