SILÊNCIO POÉTICO

Eu respeito o meu silêncio.
Não quero falar – penso.
Não quero gritar – ainda penso.
Saio e entro em mim.
Várias vezes todos os dias.
Tem algo que vem e que some.
Procuro e não encontro vazios.
Estou preenchida de palavras.
Palavras que derramo sobre as linhas brancas
De uma folha de papel rasgado, guardado na gaveta e achado às pressas.
É assim que escrevo.
Por partes.

Sou fragmentada.
E sou inteira quando somo os meus pedaços.
Mantenho-me mesmo quando não há o que falar. E torno a pensar.
Eu me observo – e espero.
E me preservo – medito.
Eu me reservo em silêncio.

A poesia grita em mim e me acalma.
O silêncio me esgota, me fragiliza, mas não me mata.
Respeito meu silêncio.
Sou como uma andorinha sem rumo,
Aguardando a revoada chegar e seguir o rumo traçado – naturalmente.

O esboço que há de mim e escrito por mim
É visível diante do espelho como um folhetim.
Cheia de diálogos inacabados, aguardando a próxima página. E nada.

Eu respeito meu silêncio.
Eu me estreito comigo mesma,
Eu estranho a mim mesma.

Quando a barreira se rompe,
Quando a palavra certa vem,
Quando o silêncio não se suporta mais,
Novamente entro e saio de mim mesma.

Munida do meu pincel e meu nanquim
Com outra folha em branco, rabiscada e rasgada...
Em poucos minutos não estará mais calada, apagada, sôfrega, desterrada.

...


Silêncio poético.

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