Cabideiros

Altos, magros, elegantes.
São meus três cabideiros.
Em tempos áureos não tinham braços suficientes para as camisas, gravatas, coletes, paletós e chapéus.
O comércio armarinho sofreu com o avanço das grandes lojas de departamentos.
Fiquei escondido na esquina da rua que se tornou mão única.
Os bondes não passaram mais.
Os automóveis não chegam no centro.
Os pedestres agora preferem as rolantes e os imponentes lustres à portinha no calçadão.
Meus cabideiros foram ficando tristes. Solitários.
Murchos.
As gravatas ficando em desuso.
As camisas de colarinho, puídas.
As abotoaduras sem seus pares.
Não tenho mais glamour a esbanjar e nem ânimo para recomeçar.
Não há como competir com os grandes.
Aqui neste solo só o grande capital vence.
As moedas e as cadernetas estão na gaveta como recordações.
Meus três cabideiros viraram objetos decorativos na minha sala de estar com móveis velhos e poltronas rasgadas.
Tomo meu café no copo.
Fumo meu cigarro e as cinzas jogadas no cinzeiro de cobre, voam quando abro a janela no início da noite.
A brisa aqui no centro ainda bate nas madrugadas e as cortinas balançam.
Meu último paletó, ainda apresentável, repousa no encosto da cadeira.
Meus cabideiros não fazem mais seu serviço de outrora.
Mas deixaram recheadas as memórias com as tantas peças que carregaram e os agasalharam no inverno desta São Paulo da garôa, das serestas, dos bondes, das mulheres de saia frizé a desfilarem pelo salão do teatro municipal.

By Adriana Drih Paris

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