BICHO DE GOIABA

'Aqui anda bem apertado e o sumo está amargando, sabia?
A massa que sempre me atraiu, anda me traindo e parece que me expulsando dos pequenos espaços que sempre ocupei aqui dentro.
Faz tanto tempo que existo, penso que todo mundo me conhece ou, ao menos, já ouviu falar de mim.
Sem contar que nos últimos dias parece que só existe a minha casa como fruta fresca nas mesas, nas lancheiras, nas fruteiras, nas prateleiras, nas feiras livres.
É tanta gente falando do meu morro - a goiabeira - onde fica meu barraco - a goiaba, que me dá medo!
Eu, Bicho de Goiaba, vou fazer minha trouxa, com uns fiapinhos velhos dos pedaços que já comi e que detonaram meu estômago.
Ultimamente, nem eu consigo mais comer a goiaba, viver na goiaba, morar no alto da goiabeira.
É tanta bobeira que falam que estou rastejando nos últimos dias, meio sem fôlego, sem força, pra cavar um buraco e fugir.
Ninguém colheu meu barraco
 ou subiu no meu morro nas últimas semanas pra me salvar desta loucura que anda minha quebrada aqui na América do Sul.
Estou me sentindo sozinho apesar de milhares e milhares de vozes só falarem do que me cerca.
E milhares de luzes de holofotes me procurarem no escuro e as mídias, numa velocidade única, disseminarem histórias recentes sobre minha habitação.
Goiaba nem sempre foi a fruta predileta dos brasileiros.
Vou cair fora enquanto é tempo.
Ai.
Opa!
Só mais um pouquinho.
A casca está ficando fina.
Força.

...

Consegui!
Que escuridão aqui fora!
Eu, Bicho de Goiaba, vou procurar uma amoreira.
Vou virar Bicho-da-Seda.
Cansei de goiaba e de goiabeira.

By Adriana DrihParis

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