A UVA-PASSA FICA.

A uva passa, fica.

A idade passa, a raiva passa.
As guerras passam.
A inocência da infância passa.
As eleições passam.
O amor passa, o ódio passa, o amor renasce e passa...
Os governos e políticos passam e a  História passa a contar as histórias que passam.
A rudeza pelo desconhecimento passa se você se esforçar.
Por que a uva passa não passa?
Os homens sempre criam um novo argumento para um novo comportamento.
Daí dizem ser um padrão.
O padrão vira tradição.
A tradição vira, muitas vezes, traição.
Até os mais liberais adoram uma tradição.
Pois lutam contra as tradições comportando-se como tradicionais opositores às tradições passadas de geração à geração.
Porque não querem deixar passar em branco.
Até o hífen da uva passa, passa.
E a uva passa, fica.
Não passa.
Desde a antiguidade as uvas compõem o cardápio de homens e mulheres.
In natura - fruta.
Liquidifeita - sucos e vinhos.
Secas - naturalmente ou intencionalmente.
A uva passa, fica.
Minha taça exala o aroma da uva que não passou do ponto.
Quero mais uva passa no meu arroz, na minha salada, na minha sobremesa.
Quero mais uva passa na minha granola, no meu suco de frutas vermelhas.
Quero muito mais uva passa no panetone de padaria.
Quero uva passa misturada com amendoim, castanha e nozes.
Quero mais sabor agridoce no meu dia a dia.
Vou adoçar as notícias ácidas que passam na TV.
Quero a suavidade das passas nos acontecimentos cotidianos.
Pois são cotidianos.
Passam hoje, passam amanhã, depois de amanhã...
Quero adocicar com muita uva passa esta minha vida que passa.
Envelheço.
Curvo-me à uva passa.
A uva passa, fica.

By Adriana Drih Paris

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