A Morte


A vida é implacável.
Ela existe para que seja possível morrer-se.
A 'caixa' que abriga coração, rins, fígado, baço... quando decide jogar fora a chave do cadeado, não há quem consiga (re)abri-la.
Os olhos se fecham, as mãos não seguram mais uma colher, os dedos não contam mais quantos anos ainda haveriam a se viver se a chave do cadeado não sumisse no tempo.
Eu viva. Ele morto.
Impossível explicar o sentimento que desperta quando olho a 'caixa', vazia de vida, vazia de ar, vazia de alma que está ali na sua frente, imóvel.
E ela, a alma, já no seu novo lar, em paz, na luz serena a nos olhar. E nós, a chorar.
A morte talvez seja a grande sorte que chega quando não dá mais pra carregar o corpo, e o corpo não consegue mais carregar a vida.
A morte é implacável.
Só chega porque houve vida.
Que esta dupla, inevitável em sua existência e companheira de início e fim, atravesse os portais de mãos dadas, assinalando que valeu a pena pra quem vai e para os que ficam.
Todo meu respeito ao passamento.
Os anjos já estenderam os tapetes no céu.

Adriana Drih Paris

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