linhas tortas
só escrevo um poema porque ele me escreve
me ajusta e me acerta no núcleo da conversa
enviesada no meio do tédio, rebuscado de perfume
só escrevo um poema porque ele me escreve
me regula feito receita e meio bula de remédio
me medica nas entre crises de uma mudez seletiva
só escrevo um poema porque ele me descreve
feito deusa, bruxa, medusa, intrusa, fêmea
em meio a antifragilidade nada obtusa
o poema me escreve em linhas tortas
e eu assim, meio vivo e meio morta,
me acerto dentro de um refrão repetitivo
o poema me escreve em linhas tortas
minhas palavras nada curtas e acentuadas
proparoxítonas balzaquianas, rodopiam,
entre átomos, feito pássaros, próximas da música,
cômicas e íntimas, bárbaras como árvores
antepenúltimo olhar feito mistério (etéreo)
o poema me escreve em linhas tortas


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