O retorno da Poesia.



as janelas e portas da casa
ficaram meses fechadas
trazendo apenas escuridão

as palavras trancadas 
permaneceram no esôfago
por semanas a fio, estagnadas

não houve remessa de piedade
nem sessão para fotos, filmes
ou então uma ligação a cobrar

a casa engolia-se
o corpo declinava
os pés não seguravam o chão

a Poesia ficou calada
: enfraquecida, quase esquecida
ela retirou-se em exílio
.
.
.
meses, semanas, dias solitários
no pensar apagado
triste, preso enlutado por si
.
.
.
aos poucos janelas e portas
foram se abrindo e sorriu a luz
na casa que estava vazia

a alma inquieta alcançou repouso lento
o corpo fatigado abraçou-se
e as mãos trêmulas dançaram sobre o teclado

a Poesia vem chegando devagar
ela esqueceu que quase tudo era um verso
e no reverso da vida, ficou contida

sem vontade e quase sem começo
seu silêncio não aquietou o coração
só deixou longe de tudo aquele olhar
.
.
.
agora quase sem medo da morte,
atrevida escreve respirando ao som de si mesma
sentindo as batidas no peito e na pulsação (que ainda pulsa)
.
.
.
(ainda pulsa)






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