SILÊNCIO
grita o homem
o homem silenciado
grita
e a voz dele
abafada
quieta
inaudita
estanca uma dor
uma dor perene
aglutinada
com tantas outras
tantas outras dores
tantos outros silêncios
e atordoado permaneço
silente
em um silêncio permanente
que não se arvora
que não se arvora a romper
os muros no peito
âmago solitário
com tensas amarras
na densidade insoluta
porém, crucial e viva
carregando uma vida
em uma sociedade apartada
sou todos eles e elas
e nenhum
em silêncio
no meu exílio (in)voluntário
perturbo-me eremítico
perturba-me corpo inabitado
estas mãos espalmadas
contam histórias tão minhas
e aflita na imensidão do meu coração
permaneço em repouso
um repouso dolorido
que escala montanhas infindas
em pensamentos
de profunda inação
no banco imaginário de descanso
duram as horas inumeráveis
em uma ampulheta de barro
diluída em água
água salina
que escorre
em minha face
enquanto olho para o nada
.
.
.
(mais silêncio em tantas manhãs
em tantas tardes mais silêncio
mais silêncio em tantas noites
em tantas madrugadas mais e mais silêncio)
.
.
.
e tudo se repete
dia após dia
em vidas antes de mim
em não vidas diante de mim
sou desassossego nada temporário
sou eternidade de uma mudez
que viaja por notas musicais
da sinfonia não apresentada
há um palco
e estou nele
sem público
sou minha plateia, e
afogado nos bolsões de lava,
tamanha temperatura
existente por dentro,
em depósitos de magma
reconstrução permanente
após cada implosão
que acontece em minhas têmporas
(sou puro vacilo)
.
.
.
do silêncio rubro
sou parte do todo que nada faz
somente observa
a si...
.
.
.
e m s i l ê n c i o
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