As gavetas do Rangel


E depois de tanto esperar, procurar
Pesquisar e enfim comprar
Aquela mesa que irá apoiar os manuscritos mais inóspitos e também românticos,
Servindo de porta cotovelos nas noites de indagações sem choro,
Está pronta para a nova morada.

Não seria mais que uma simples mesa se não fossem suas gavetas
Para guardar os sonhos que foram escritos em folhas amassadas
Com canetas e sem Bíblia pra se ler.

Os cadernos antigos da escola que não se quer perder estarão lá.
As cartas de amor e os sonetos pra musa estarão lá.
E muda, a mesa, fala
Quando cutuca os joelhos apertando as pernas ligeiras do poeta.

Tais gavetas desaceitam refluxos poéticos e querem para si umas dezenas de rimas perdidas.
Após anos sobre a cômoda alta
No quarto nada dele mas só seu.

Enfim, a mesa completa e perfeita nas repartições de conversas,
Em noites cheias de grilos,
Serão guardiãs de outros sonhos projetados em velhos portos para brasileirar,
Em ranger de dentes na raiva danada de escrever o mundo para se guardar a sete chaves nas gavetas do Rangel.

Comentários

Postagens mais visitadas