Vesperal de Aniversário
Em quantas vésperas de domingo
Me fartei de esperança numa reza sem missa?
E era eu quem escrevia o pedido e o agradecimento,
Em um santo poema sem nome.
Levantei muros empilhando os livros
Que ainda não li e os que li mais de uma vez.
E havia uma inscrição na tampa da caixa
Onde eram guardados tais versos alegres e sãos: - 'Meus e Teus'.
Como um amor inaudível em um mausoléu de palavras, trinta anos seguiram -se.
Se saudade tiver cor, tenho um arco íris de lembranças.
...
Meu sangue, adubado com café para tantas noites em claro, envelheceu três décadas.
E de barro em barro o telhado construiu-se com e sem rimas.
Entre tantos tons e sons, suas notas nuas no violão nos deram vida.
Dói a juventude distante e no mesmo instante, sorri a maturidade.
O pé de maracujá perfuma o jardim da casa das serestas de trinta anos atrás.
E a Medusa forte, dona da gente, plantou o vento bom.
Ficou a meiguice, o espanto, o espírito e o zelo para outros tantos vesperais e domingos.
Canto o salmo, rezo poemas, dedico as canções que não escrevi.
Agora, e por fim, todos os versos de um terço de tempo ficarão guardados aqui.
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Escrito especialmente para a Antologia 30 anos do Centro Cultural Butantã sob a curadoria de Clóvis Ribeiro.
Abril 2022 na chácara da Grazi.
Namastê.
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