Lamparina
as maçãs apodreceram na fruteira
não havia fome há alguns dias
as frutas que quero ainda não nasceram
e a fome de vida é maior que uma maçã
uma luz ilumina um pedaço do meu espaço
e me falta espaço pra ter mais pedaços desta luz
de um brilho de dentro que expande e reluz
pra fora dos olhos - meus olhos - seduz
ouço meu choro mas não reconheço este soluçar
- onde está aquela menina que brincava no revés do sonhar?
hoje o brilho do Farol está com intensidade de uma reles lamparina
e uma insignificante rapariga me espia da sacada do prédio à frente
enquanto retiro as sementes das pobres maçãs podres e as jogo num vaso de terra sob o luar quente
meu choro silencia
meu olhar se perde
minhas mãos sujas me procuram
minhas vozes me calam
assim são meus sonhos - semeados com as perdas... como as sementes de maçãs mofadas
me perco na vastidão de mim debaixo da luz
pois há uma sombra refletida no chão
e nela piso - como se pisasse em mim
enfim, novas maçãs nascerão
e a fome vai chegar me trazendo vida
vida e luz sem sombra
com a voz da rapagarida me pedindo um pedaço de mim.
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