SAMPA COVIL


Diversão com as hienas nas noites paulistanas.
Qualquer que seja a temperatura marcada nos indicadores, as noites são quentes (fervem).
O que os dias escondem e mascaram, a noite expõe.
Não há medo nas noites / das noites.
As noites sim temem os homens-demônios.
O consumo dos malditos causam-me ojeriza.
Me hostilizo com os postes que iluminam o Anhangabaú.
Cheiro de urina. Cascas de laranja e pontas de cigarro no chão.
Mais um elegante carro preto para na esquina, abaixa o vidro e a prostituta aproxima-se dele.
Trinta segundos de conversa. A porta se abre e ela, loira curvilínea, some na próxima à direita.
Os fantasmas aparecem e as raivas ocultas explodem sem escudos.
Nada há de absoluto neste mundo absurdo.
Se há fome durante o dia, à noite há fomes plurais.
Plurais são as vozes e os ecos nas ruas desertas de gente e cheias de zumbis.
Me atiro debaixo da ponte estando debaixo da ponte.
Não esfolo nenhum joelho, meu salto não quebra... já estou descalça há alguns dias.
Sampa Covil me abriga e me intriga a constelação de luzes do centro.
Centro amorfo e absorto em fumaça, gás, cacos de vidro, cachaça barata.
Esta noite não tenho elogios nesta cidade.
Sonâmbulo, feito lobo, estarei pelas ruas e calçadas.
Amanhã será outro dia. Me procure. Me encontre. Que eu te conto.
Te conto como foi ficar acordado, ziguezagueando, sem um abajur para desligar.

By Adriana Drih Paris 
09-05-2018 (quarta-feira)
20h07

Imagem de domínio público. Freepik.





Comentários

Postagens mais visitadas