Quando saí de lá

"Nunca senti saudade deste modo que sinto
Desde quando saí de lá.
Saudade antes truncada que foi crescendo, crescendo
E a beleza aparecendo em todos os cantos do canto de lá.
É a saudade da rua de casa e das casas da rua,
Da padoca da Vila e da Vila que continua igualzinha aos tempos de lá.

E a beleza da cruz da igreja de pedra e da igreja que não tem pedra nem cruz.
É a vista do morro, antes nada admirável, entrecortado de tanta erosão do lado de lá.
E o coração da gente que antes batia calado, quieto e miúdo,
Agora estoura no peito toda vez que passo de carro pelas bandas de lá.

E tinha a Dona Maria que não mora mais na casa grande da esquina,
Porque um tal de Pedro, o Santo, resolveu uns anos atrás chamá la pra um tanto longe de lá.
E o Seu João ficou um tempo triste, calado por esta partida,
Mas ele sempre foi forte e ainda o vejo sorrindo toda vez que passo ligeira pelas esquinas de lá.

Lá é cá - foi e é o meu lar - mas nada se compara aos tempos de infância
Em que correndo da chuva, driblando as pedras da rua de terra
Que sem chuva, suja da poeira que vinha feito nuvem apressada toda vez que eu tentava sair...
E fugir da rua de casa, da casa pra rua, fugir da Vila, da igreja, do morro, da cruz e até dos olhos da Dona Maria que sorria toda vez que me via pelos lados de lá.

Nunca senti saudade deste modo que sinto
Como desde quando saí de lá."

By Adriana Drih Paris

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